Festa - Simbolismo e Significado
A Festa
É num ambiente invólucro de festividade que os bares e discotecas funcionam no seu dia-a-dia mas, principalmente no fim-de-semana. O termo festa envolve várias simbologias na medida em que a festa é, antes de tudo, uma vivência subjectiva e grupal, característica fundamental destes espaços. Conforme Manoel Cuenca, são três, os valores dominantes no ânimo festivo: a alegria, a espontaneidade e a liberdade compartilhada – juntamente com duas características comunitárias inerentes ao espírito da festa: o excesso e a ruptura. “La vivencia de estos valores y su manifestación van unidos a cada persona y a cada pueblo, en cada momento de la Historia” (Cuenca, 2001: 58).
Delimitando a festa, é possível afirmar que ela acontece sob a confluência de três elementos fundamentais. “A festa é, antes de mais nada e acima de tudo, um acto colectivo extra-ordinário, extra-temporal e extra-lógico” (Maffesoli, 1998: 19). Ela reúne uma fusão colectiva em estado de exaltação, que está reunida em consagração a algo ou a alguém e, dessa forma, desprende-se do estado linear e quotidiano da vida, “pois a festa é uma sucessão de estados fugidios, presididos pela lógica do excesso, do dispêndio, da exacerbação, da dilapidação” (ibidem). Isto é, o estado da festa é o estado de um outro mundo, ou seja, as várias formas de experimentação da vida social acontecem de maneira a exaltar os sentidos e as emoções. “En la celebración de una auténtica fiesta se superan las barreras de la existencia temporal y se consigue la renovación, la transformación y el renacimiento” (Cuenca, 2001: 58). Assim, a festa representa um momento não-formal mas, também não-ordinário de reinvenção do quotidiano.
Delimitando a festa, é possível afirmar que ela acontece sob a confluência de três elementos fundamentais. “A festa é, antes de mais nada e acima de tudo, um acto colectivo extra-ordinário, extra-temporal e extra-lógico” (Maffesoli, 1998: 19). Ela reúne uma fusão colectiva em estado de exaltação, que está reunida em consagração a algo ou a alguém e, dessa forma, desprende-se do estado linear e quotidiano da vida, “pois a festa é uma sucessão de estados fugidios, presididos pela lógica do excesso, do dispêndio, da exacerbação, da dilapidação” (ibidem). Isto é, o estado da festa é o estado de um outro mundo, ou seja, as várias formas de experimentação da vida social acontecem de maneira a exaltar os sentidos e as emoções. “En la celebración de una auténtica fiesta se superan las barreras de la existencia temporal y se consigue la renovación, la transformación y el renacimiento” (Cuenca, 2001: 58). Assim, a festa representa um momento não-formal mas, também não-ordinário de reinvenção do quotidiano.
Numa festa moderna, o disk-jokey descortina o imaginário dos festeiros através da música (e, geralmente, conta com o auxílio de iluminação especial, projecções de imagens em telas ou ecrãs, peças de decoração etc.), inserindo-os num ambiente de grandeza e delírio alucinante. Este clima de festa não é exclusivo dos nossos dias, praticamente todos os povos são seduzidos e fascinados pela atmosfera de uma festa, porque esta é uma produção cultural de eficácia simbólica, como também um fenómeno cultural bem demarcado, um tempo colectivo dentro do qual diversas experiências ocorrem. “Mesmo com sucesso no mercado, algumas das expressões culturais populares e de massa hoje, pela sua condição híbrida – capaz de reunir vários elementos – permitem o seu enquadramento, não só dentro de um referencial étnico, mas também em formas de segmentação e organização da cultura nas sociedades industrializadas.” (Hershmann, 2000: 245)
De carácter hedonista e agonístico, a festa é uma associação sem conteúdos, sem propósitos objectivos e sem resultados exteriores. “La fiesta es el acontecimiento global y social que sintetiza el esfuerzo comunitario por lo no útil, el ocio por excelencia” (Cuenca, 2001: 58). Ainda assim, “a festa atrai os seus participantes por ser efémera, mas repete-se todos os fins-de-semana” (Barros, 2002: 67). Isso quer dizer que os únicos alvos são o sucesso do momento sociável e a lembrança dele. Numa festa o tempo é o agora, não interessa se naquele instante não está a existir ruptura com o quotidiano. A festa é um símbolo daquilo que não podemos tornar definitivo, por isso a sua dimensão de catarse contemplativa. “Ninguém faria festa o dia todo. A festa é o que interrompe o usual” (ibidem). O tempo da festa, portanto, não é histórico, é cósmico. “El tiempo de fiesta no es tiempo libre sino un paréntesis de cotidianeidad que nos remite a un tiempo sagrado” (Cuenca, 2001: 59). As raves, por exemplo, subvertem inclusive o próprio tempo das festas, pois costumam começar em horários peculiares, muitas vezes em dia claro, e dificilmente têm uma hora exacta marcada para terminar. “Uma festa acontece sempre num tempo original. É precisamente essa integração do tempo original e sagrado que diferencia o comportamento do antes e depois” (Eliade, 1992: 80). Outra característica importante, segundo Lea Freitas Perez, é o facto de a festa não ser, obrigatoriamente, sinónimo de alegria. Há festas alegres e festas tristes. “Esse mundo de excepção/mundo ao inverso, que é o da festa, mistura alegria e angústia, regozijo e violência, prazer e dor” (Perez, 2002: 28). Mas, independentemente do humor da festa, é possível enumerar particularidades comuns a todas elas. “As principais características de qualquer tipo de festa: 1) superação das distâncias inter-individuais; 2) produção de um estado de efervescência colectiva; 3) transgressão de normas sociais” (Barros, 2002: 51).
A festa é o reino do sagrado – sagrada transgressão –, e, mesmo produzida pela violação dos preceitos vigentes, é dotada de uma certa ordem própria que deve ser cumprida. A diferença é que essa etiqueta é gerada de um princípio excessivamente hedonista, sem significados plenos, mas de preceitos puramente artísticos, lúdicos e estéticos. Devido à sua natureza, a festa pode inclusive ser classificada como excesso. “O indivíduo sente-se amparado e transformado por forças que o ultrapassam” (Perez, 2002: 24). Essas forças têm um poder tão revigorante, que é justo dizer que vivemos na recordação de uma festa e na expectativa de outra. “A festa é excesso, em todos os sentidos, para não fazer sentido algum” (Barros, 2002: 67).
Na festa, o homem é conduzido para fora de si, num espaço extra-ordinário, extra-lógico e extra-temporal livre de necessidades habituais. “A festa é uma espécie de pausa na vida quotidiana, como um momento contemplativo no meio da acção diária” (ibidem). Essa suspensão do dia-a-dia cria uma realidade utópica, possível apenas no tempo da festa.
Do vínculo festa/religião é possível extrair o carácter efusivo que esses modelos de cerimónias infundem. Tanto nas festas profanas quanto nas celebrações religiosas, o homem é transportado para fora de si e esquece-se das suas preocupações quotidianas. “Em ambas observam-se as mesmas manifestações, como, por exemplo, gritos, cantos, música, movimentos violentos, danças, busca de excitantes que aumentem o nível vital” (PEREZ, 2002: 23). As religiões indígenas e negras fazem festas celebrativas em consagração aos seus deuses com os elementos da natureza, a música e a dança. “Nas religiões tradicionais, a festa é a irrupção do divino no mundo. (...) A festa é o momento de Deus invadindo o tempo dos humanos (...) ”. (Barros, 2002: 61). Há também o caminho inverso: “la fiesta es la versión sublimada del ocio en el cristianismo medieval, cuando el cielo es imaginado como una fiesta, con festín incluido” (Cuenca, 2001: 59).
Todos estes exemplos testemunham a festa como um momento que sempre existiu para realizar-se a comunhão com os deuses, mesmo que exista diferença entre algumas motivações. “A música e a dança são elementos cruciais de ligação entre as pessoas, são os fios condutores dessa operação alquímica” (Hershmann, 1997: 73). Há quem festeje para ficar próximo de Deus, e há aqueles que festejam para que Deus fique próximo deles. Em sua eficácia simbólica, a festa aproxima-se da arte. “Os homens sempre fizeram arte preocupando-se com algo mais do que o seu valor pragmático; por exemplo, pelo prazer que proporciona ou porque seduz ou comunica algo de nós” (Canclini, 2003: 113). O sagrado, contudo, é a causa maior que une a festa ao céu.
Um dos registos mais remotos das festas vem de cerca de 2400 a.C. e são as Bacantes, peça de Eurípedes, onde relatava os primeiros passos do culto a Dionísio, deus do vinho e da vindima. Os gregos atribuíam, inclusive, o nascimento da dança ao nascimento de Zeus, deus mor. Acompanhando esse ritual, havia substâncias, como o álcool e ervas, que alteravam o estado de consciência – tudo controlado por pajés ou xamãs. “Com a mudança para o contexto urbano e a desvalorização das culturas antigas, a sociedade actual perdeu o controlo desses elementos” (Barros, 2002: 66).
Como celebração da vida, as festas podem ser vistas como variadas formas de viver a experiência humana em sociedade. A festa instaura e constitui-se num novo mundo, uma outra forma de vida social marcada pelo lúdico, pela exaltação dos sentidos e emoções – de modo marcadamente hedonista – e, paradoxalmente, pelo não-social. (ibidem: 110).
“Na festa, os dias melhores (...) deixam de ser uma promessa para o fim da história. Se não houver alegria nesse baile, aqui e agora, a festa não tem sentido”
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